quarta-feira, 28 de julho de 2010

Confissões de pedra

A pedra da minha rua,
é um tanto esquisita,
fala, rir, chora,
conta histórias.

Ela falou-me:

De como a Pangéia se partiu e virou cinco continentes,
de Tiahunaco e seus monumentos,
dos cavaleiros medievais e da Inquisição,
de religião e astronomia.
Disse também que,
construiu castelos incas e hoje sonha virar um edifício na Avenida Paulista.

Uma pedra sempre traz uma história consigo.

Falou também sobre sua família:

A pedra- arquitetônica de Niemayer,
irmã visionária e audaciosa.
A pedra - roseta de Bonaparte,
prima sábia e antiga.
A pedra-seca de João,
a pedra ordenada, a pedra que educa,
a pedra-alma, tia distante.

E diz que sente saudade da sua mãe.
Essas pedras...
No fundo são umas sentimentais.

Esta pedra da minha rua é do tipo urbana:
Tem enxaquecas, usa terno
e faz análise nas sextas.

Vai ver que deve ser seus trabalhos duros na rua da cidade,
suportando as toneladas de ferro,
vidro, carbono, éter e frustrações, diariamente.
A cidade e seus derivados de máquina,
devem ser desconfortáveis quando estão em  cima de algo.

Essas pedras da cidade têm uma vida dura.

Reclamou de dores nas costas,
e explicou que era problema de família.
Por fim, despediu-se.
E partiu para viver sua vida de pedra.


Por: Cícero Augusto.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Melancolia

Leva o que é dia
que a tarde afastada de mim
é a parte pulsante e elástica
é noite, calma e ruim.

É o fim do fogo acabando
que arde dentro de mim
carcaça caindo aos pedaços
é o dia acabando enfim.

São madeiras cravadas no chão
sonetos fincados em mim
palavras e vozes ao leu
que o amor é o pior cupim.
 

É o amor que hoje eu nem digo
aquarelas debaixo de mim
num instante gelado e ambíguo
a noite acabando assim.

O dia e o fogo surgindo
queimando dentro de mim
deusas de charme e beleza  

obrigando-me a chegar ao fim.


Por: Rossano Coutelo

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O não-nascido.

Ò inocente feto,
fruto de um incoerente afeto,
de um relacionamento controverso.

Ò pobre criança,
morreu na lembrança,
de um jovem casal.

Uma pílula que roubou-lhe
a saúde.
Deixá-lo viver,
não pude.
Meu Deus,
por favor. Perdoai.

Laço sanguíneo cortado,
amor prematuramente amputado.
Imagem de um futuro amargurado.

Aborto esses versos,
como quem chora,
inútil é pedir perdão
a uma vida
que já foi embora.


Por: Cícero Augusto

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Primeiro soneto

Pensei em te escrever um soneto
que no teu rosto lágrimas eu veria,
seria esse meu primeiro soneto
comigo várias métricas eu traria.

Iria escrever da nossa infância
da razão que sempre era tua,
da nossa eterna constância
aqueles planos de ir a lua.

Mas um soneto a tua altura,
pelo tamanho da tua ternura, 
é dificil de se imaginar.  

Eu prefiro contemplar a fundo
os sonetos escritos ao redor do mundo,
para depois te recitar.


Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Se você soubesse.


São inúteis as tentativas de subverter a essa escolha
Quando tento te mostrar o caminho, mudas o olhar
Quando tento te trazer para o meu ninho, voas para outro lugar
Como? Se teus olhos te deletam e me dizem o contrário?

Confundo-me com tuas palavras, não sei se me entendes
Teus problemas não me parecem tão grandes
Ou eu não consigo enxergar?
Tuas horas passam tão rápido.

Teus anseios se diferenciam dos meus
Teus cabelos me atraem como a noite escura
Tua boca me mostra o quando te desejo
Mas nada adianta se não queres entender o que falo.

E por mais que eu diga, é estranho dizer
Por mais que eu negue, é difícil negar
Esses quês em demasia só me fazem chorar
E esse choro contido deságua no mar.

Fiz sonetos e prosas, poesias marcadas
Entrei em luto por quem não morreu
Vendi-me a mim mesmo por um preço barato
Só não me pergunte o prêmio, não sei responder.

Tua vida minha vida, tua alma minh’alma
Meu corpo teu corpo, meu tudo teu nada
Estranho e sozinho, sem nada no ninho
São inúteis as tentativas de subverter a tua escolha.

Por: Rossano Coutelo