quinta-feira, 17 de junho de 2010

Cadê Sophia?
*Para minha afilhada.


Cadê Sophia? Que demora tanto a chegar?
Cadê Sophia? Que a todos vem completar,
Divisora de águas de vidas insanas,
Irás ser tão bonita quanto as damas palacianas.

Cadê Sophia? Que acampa nos corações desnorteados?
Cadê Sophia? Que acalma os corações desesperados?
Na tua vinda trazes tanta obrigação,
Es tão esperada quanto os preceitos do alcorão.

Cadê Sophia? Que anda causando tantos planos?
Cadê Sophia? Que pela qual rezamos para todos os santos,
E a gente vai sonhando, vai rezando por Sophia,
E a gente vai amando, vai preparando o mundo de Sophia.

Cadê Sophia? Que irá receber tanto carinho.
Cadê Sophia? Que está dentro do seu ninho.
Eu quero ver Sophia se tornando gente grande,
Eu quero essa boneca de porcelana em cima da minha estante.

Por: Rossano Coutelo.
Socialismo Tupinambá.


Casa simples na periferia inglesa,
o proletariado explorado, O burguês vence.

Uma oca de palha na selva latina,
um ameríndio decapitado, Cortez vence.

O mar para todos, a sombra do jacarandá para todos
, o dorso desnudo, a fruta tropical.
Enfim o bem-estar social. Comunismo perfeito.
Nem mais nem menos, apenas um peixe na farinha de mandioca.

Numa viagem
Paraguaçu e Thompson
discutem O Capital numa canoa
a caminho de Moscou.

Em um quadro
Amoedo pinta,
uma retrato de Marabá
trabalhando numa fábrica
na Inglaterra do século XIX.

Num mural
Rivera pinta
Marx nas margens do Amazonas
debatendo com seringueiros.

Mais ou pouca valia,
não importa. Um gostoso
Beju é o suficiente.
Uni-vos, apenas na caça,
na oca e na mata.

O Estado é a natureza.
A ditadura é a do sapo, da onça,
do peixe, da árvore.
A prole sem o arado,
fábrica e nem salário.

Tudo se baseia no comum.
Tudo se baseia no social.
Tudo se baseia no natural.



Por: Cícero Augusto.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Então é Natal?


O menino vislumbra o
pinheiro iluminado.
È natal!

A cidade repleta de pessoas
com sacolas cheias.
Mas de almas vazias.
A árvore onipotente e luminosa
rasga o negro céu da capital.
E debaixo dela,
o rio reflete o esplendor da cidade
em dezembro.

A família feliz rodeada de comida.
È Natal.

A sociedade vermelha,
só no vermelho o social.
Senhores poderosos desembolsam
grandes quantias para uma filantropia
isolada. Nas caixinhas do proletário
encontra-se: “Colabore com nosso natal.”
Onde na verdade
lêsse:  “Ajude a exploração.”
Enquanto os honestos pedem em caixinhas,
os desavergonhados do planalto roubam em malas.   

O banquete na mesa, as pessoas
sorrindo.
O charmoso panetone.
As guloseimas coloridas.
Receitas caseiras com cheiro de mãe.
As bebidas diversas.
E no centro de tudo
o protagonista do dia, O peru.
È natal no Brasil,
O peru está na mesa.

A ética no lixo. E o peru na mesa.

A igualdade no banheiro. E o peru na mesa.

A honestidade no quintal. E o peru na mesa.

O amor ao próximo apenas no aperto de mão. E o peru na mesa.

A pobre criança no sinal. E o peru na mesa.


Por: Cícero Augusto.
Eu fui e ví.

Eu fui lá e vi de onde nasciam as poesias,
As rosas não eram iguais as nossas.
O ar era frio, carregado, no chão palavras soltas,
Nas paredes, pontos, vírgulas, interrogações.

Eu fui além e vi como são feitas,
Umas saem sem muito esforço, vem da natureza.
Outras é preciso cultivar, regar, esperar,
Mas no fim todas tem o mesmo valor.

Eu fui além e vi quem fazia,
Uns para aliviar uma tensão presa no peito.
Outros para comprar o pão de cada dia,
Podem acreditar elas são irmãs.

Todas sempre chegavam a algum lugar,
Essas poesias tinham significados diferentes.
Toca o coração de uns de forma peculiar,
Em outros ela fica na palma da mão, pronta para voar.

Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Poema Vida.

Acordas de um sono
Distante, irreal.
Conservas ainda aquele olho inchado
E sensível à luz. O sonho enfraquece o corpo,
Mas revigora a alma.
Pisas agora na realidade, e o chão está frio.

Desde de menino negas
Tua incapacidade, tua fraqueza
E teus erros. Nunca aceitasse um cigarro,
Nem também um carinho de teu pai.
Teus irmãos eram bons, tua mãe era boa,
Tua tia, até teu cão. Já tu, reclamavas do vento.

Amava as coisas do teu quarto,
O computador com teus textos,
Os livros de bolso,
Tua pequena coleção de Cd’s e
Um travesseiro velho que recostavas a cabeça.
Odiava a casa e seus barulhos.

Tua adolescência foi como todas as outras,
difícil e insuportável.
Respostas a tudo.
E incoerência para quase tudo também.

Descobrisse o amor.
Descobrisse o desamor.
E depois chorasse de novo.

Nunca fosses inclinado
Para o álcool e nem o fumo.
Teus vícios eram outros.
De segunda a sexta Escola.
Ler durante o sábado e
Rir com os amigos no domingo.
Mulheres? Foram poucas em sua vida,
Entretanto intensas, uma lhe mostrou o verdadeiro
amor e outra lhe deu um filho.

Tudo mudou.
O que restou foi apenas Olinda
E suas igrejas.

Estas agora com 18 anos,
Com pouco cabelo,
Um filho
E muita saudade.


Por: Cícero Augusto.

Nada é meu.

Meus primeiros versos
de um poeta mudo
meus primeiros traços
de artista cego
são todos seus
minhas obras inacabadas
meus anseios inalcançáveis
são todos seus
as ruas de barro
automóveis sem freio
meus ensaios de vida
minhas notas tortas
são todos seus.

Essas promessas sem fundamento
fatos compilados, fora de ordem
escuridão sem fundo projetor
setas que não indicam onde estou
morte condenada a eternidade
mas são seus, os momentos de tensão
aqueles que mesmo de antemão
sabemos que pode dar tudo errado.

Por isso, tudo que faço é seu
o mais forte dos suspiros
a mais larga das angústias
meus maiores defeitos
são todos seus
vagando por estradas confusas
que levam ao lugar mais desejado
somam vias de uma veia interrompida
tudo parte do mesmo lugar
e chega neste lugar que agora estamos.
 

Este lugar também é todo seu
por mais que não ganhes nada material
é tudo seu
por mais que não saias com nenhum peso
peço a sua permanência, não solte essa corda
ela representa o fim do arco-íris, impreciso
mas ao mesmo tempo existe uma recompensa
que você nunca vai ver, mas ela existe
o maior prêmio, é o caminho que iremos fazer juntos
até o fim do arco-íris, por toda a nossa vida.

Por: Rossano Coutelo.