quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cantigas para Ninar Menino de Rua.


Cadê o abrigo que ficava ali?
-O homem desativou.

Cadê o colchão que era para mim?
-O homem levou.

Cadê a comida que tinha aqui?
-Essa o gato comeu.

Escravos de Jô,
jogavam na Caxánga,
tira, tira,
deixa o menino sem brincar.

Guerreiro com Guerreiros,
fazem fila para comer.
Guerreiros com Guerreiros
fazem fila para comer.

Atirei o pau no gato, to, to
Mas o gato, to, to
era preto.

A ocorrência não ocorreu,
porque o gato era preto
e se fudeu. Miauu.

Se essa praça, se essa praça
fosse minha,
eu mandava a prefeitura
reformar.
Com banquinhos,
com baquinhos confortáveis,
para eu e meus irmãos
deitar.

Se eu roubei,
Se eu roubei um pedaço de pão
È porque não comia na FEBEN.

Se eu roubei,
Se eu roubei um pedaço de pão.
È porque o Sistema não me faz bem.

Hoje é domingo,
pé de Cachimbo.
O Cachimbo é de ouro,
vendo e compro de novo.
A pedra é valente.
Bate na gente.
E agente é fraco,
Cai no buraco.
O buraco do vício é fundo.
Acaba-se o mundo.

Por: Cícero Augusto.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sociedade dos animais.

Existem certos animais,
que são piores que certos animais,
não querendo menosprezar certos animais,
animais que nascem para serem animais,
e morrem como animais,
irracionais esses animais,
os mesmos que pensam ser racionais,
infelizmente são esses animais,
que povoam os congressos dos animais,
ocupam cargos judiciais e federais,
e estão nos anais da sociedade dos animais.


Por: Rossano Coutelo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bom Brasileiro


Ele era um bom brasileiro
Na carteira pouco dinheiro
Conhecia o bairro inteiro
Para fumar seu cigarro não usava isqueiro.

Mas tinha a arte de amar
A cachaça do bar
E tinha sempre a cabeça cansada de pensar
Ele era um bom brasileiro.

Sempre preocupado com seu medíocre emprego
Sonhava com mulheres o dia inteiro
Futebol aos domingos no canteiro
Para tudo tinha-se um jeito.

Ele era um bom brasileiro
Tinha consigo a arte de amar
A cachaça do bar
E a cabeça cansada para pensar.


Por: Rodrigo Araújo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pouco Azul.


Ès menino!
Pouco azul, mas és menino.

Pelo teu cheiro és menino.
Pouco azul, mas és menino.

Pelo teu sorriso és menino.
Pouco azul, mas és menino.

Pela tua alpercata de pano és menino.
Pouco azul, mas és menino.

Pelo ruído do teu chocalho és menino.
Pouco azul, mas és menino.

Os médico dizem que serás
Todo sempre pouco azul.

Mas, um dia irei de te ver
Suficientemente azul sob o sol.

Por: Cícero Augusto.
Retenção subjetiva do olhar.


A inspiração que bate
depois do exercício, o quilate
negro olho tenso, estala
na tua pálpebra estranha, dilata.
 

O teu esforço de longe disfarça
a tua cara já mostra essa farsa
se queres ser o palhaço que seja
olhe os teus olhos retenha e veja.

Finja ser o retalho da sobra,
a parte miúda que seca e não molha
não queira ser escravo da sorte.

Pois é a sorte que corta com ponta,
pois essa sorte é a mesma que conta,
os teus passos a caminho da morte.



Por: Rossano Coutelo

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Quase morto.

Ai de tí se fores trazer
Se fores morrer,
Há de ser por terra
E mais de tuas horas
Peço pouco para agora,
Morre, mas morre pouco.
Morre longe, sem
Morrer em mim.
Sem fazer de mim,
Um amante morto.

Por: Rossano Coutelo.
Minha saudade Tem Nome.

Se saudade
Tivesse cheiro.
Teria cheiro de alfazema.

Moraria em Gravata,
Em uma casa bem pequena.
E iria todo dia a igreja
para rezar a novena.

Mas quando
Saudade morre,
E não passa dos setenta.

Deixa no mundo todo,
Uma tristeza tremenda.

Uma emoção
Tão grande
Que não cabe,
Em um poema.


Por: Cícero Augusto.