quinta-feira, 27 de maio de 2010

Carta ao não amante.

Então falar de amor saiu de moda?
Louvar o calor já não mais voga?
Qual a parte que te toca?
Onde posso atingir teu melhor olhar?
Te interessa as regras, as métricas?
Eu sei que não.

Te enche os olhos, críticas, falácias ou metáforas?
Ficas saboreado com privações, restrições ou reformas?
Pedras sobrepostas em estruturas sedimentares,
Movidas por qualquer sentimento de mudança e continuidade,
Achas sentimentos nas rochas, velhice na areia?
Se falam de pobreza ficas feliz?
E da riqueza dos que nascem ricos, eles tem culpa?

Tens um coração angustiado,
Com medo de transparecer fraqueza,
Mais medo ainda de se relacionar com as palavras.
Voltas e voltas e estás em um mesmo ponto,
E quando falas de amor, perde teus próprios olhos,
No meio dos carros, das chuvas, das feiras.
Dentro de ternos pretos, nos lugares mais longínquos.
Podes não perceber, mas o amor está vivo em todos os litorais.

O teu bloco de amor não para companheiro,
Bota um pouco de amor nos foliões agitados,
No Tibet ou em Meca, o relógio sempre pode marcar seis horas
Mas essas horas passam mais rápido quando o "amor tá lá".
Veste teu terno preto, compra um sonho qualquer por ai,
Visita um ou dois amigos, tira a tua identidade,
Continua a observar vidas a beira-mar,
Juntamente com as ferrenhas críticas.
Só não esquece de "as vezes amar". 



Por: Rossano Coutelo.
Sonho Doce.

Levantou alegre,
nem pisou no chão.
Flutuo da cama, tudo parecia mais leve.
As contas à pagar não mais existiam.
A mulher despertou em silêncio, não reclamou de nada.
O cachorro não latia, cantava uma bela música de Sinatra.
Tudo parecia dourado, brilhante.

Um mundo maravilhoso e perfeito.

O cheiro fétido de alguns objetos do mundo
O incomodava, mas agora o mundo cheirava
A uma lembrança boa, a saudade.
A saudade tinha cheiro e até cor, a saudade
Era amarela e às vezes cor de goiaba.
As dificuldades, das coisas duras da vida,
Tornaram-se moles, cremosas.
A fome, a guerra, as doenças, eram
Flácidas se desmanchavam com uma mordida.

Todos os lugares do mundo tinham um ar de pátria,
Tinham uma temperatura gostosa, eram mais quentes.
Um quente suave, um calor delicado.
Um conforto de colo de mãe.

Os jornais anunciavam notícias incríveis:
A Globo tinha decretado falência.
O Congresso tinha sido demolido.
Não havia mais mendigos e pobres, todos eram ricos e falavam francês.
E os Estados Unidos, virou um imenso sanduíche Americano
Que foi cortado e distribuído às crianças africanas.

O sol parecia um grande pão
De casca dourada. E as nuvens
Eram um chantili gigantesco e saboroso.
Os carros foram deixados para trás,
E uma multidão levantou vôo em direção
Ao céu. Os pássaros humanos se alimentando
Do alpiste açucarado do algodão flutuante.
“O dia mais feliz, a hora mais doce”.

Enfim, acordou.
Despertou do cochilo.
Olhou para o mundo e se decepcionou.
Mas, levantou, pegou a carteira
E lembrou que o sonho na Padaria
Custa apenas R$ 1,00.


Por: Cícero Augusto.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Litoral Vivo

As ondas quebravam em silêncio,
nas rochas de granito inquebrantável.
Os ventos as levavam para as pedras,
as pedras as levavam para as areias,
e as areias as levavam para a lembrança.
A memória de algo quebrando, de algo vivo.
Porque o que é vivo quebra.

Mas ali, eles ficavam intactos,
o tempo só mexeu na superfície
Cabelos brancos, o céu azul.
olhos cansados, o mar voraz.
Conversa calada, o som do vento na folha do coqueiro
é o ideal.
Um casal no seu inefável momento
de observar o mar, o mundo.

Mãos dadas na beira-mar.
Talvez daqui algum tempo,
um não terá a mão do outro.
Só terá a sua própria, entrelaçada
na beira de um buraco eterno.
É incrível como o amor pode sobreviver
ao incomodo do passar das horas,
ao conflito do cotidiano, persistir diante
de outra vontade.

O horizonte os conforta,
a paz das coisas infinitas.
Os cabelos longe, se confundem
com as nuvens brancas do céu.
A morte se apresenta até em fios
de cabelos. Mas eles já perderam
o último fio de esperança.
Sentados, esperam uma despedida tranquila.

Um jovem surge para
recolhê-los pra um carro.
Os carrega com atenção.
Conduz algo frágil, raro, e ele sabe disso.
Passo a passo, com cuidado.
Porque o que é vivo quebra,
no mar, na onda, na lembrança.


Por Cícero Augusto.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Versões

 Parte II

Amar-te é o que demasiadamente faço
Amar-te é uma sina da qual não me desfaço
Os sentimentos por ti me avassalam
Meus desatinos, descompassos, a ti se entrelaçaram.

Teu amor é a tese.
Teoria que aparentemente só cresce
Minha loucura é antítese, abnegação que se traduz em servidão.
Ah! Nossa síntese? Nada tem de compreensão ou evolução, ela é apenas compaixão.

Meu caro, não te desvie ao meu zelo
Não me roubes o desejo.
Deixes-me errar por te amar
Deixes de tanto amor, me embriagar.

Com você idealizo o amor carnal
Aquele que faz do homem um ser mortal.
Quero apenas o prazer inebriante
Quero apenas vivenciar momentos que valham a pena guarde-se num instante.

Tu que de pouco viver, procuras o ideal
Não consegues entender? Contento-me apenas com o que me convém ser real.
Nos versos vagos que permeiam sua boca
Reflete apenas uma vida oca.

Amar-te é uma certeza
Não precisas ser piegas, pois sou convicta como uma fortaleza.
Não tenhas medo de magoar-me
Tenhas medo sim, de não vivenciar-me.
 

Com a efemeridade, tudo é transcendente
Só não lamentes o que já não se sente.
Sigo forte a sentir
Só não espere tanto de mim, pois sei que outrora tudo há sumir.

Meu bem, não sejas tolo e prepotente
Um amor é um sentimento que se recebe como um presente.
Insistes em me desdenhar, porém, só até certo ponto ei de agüentar
No futuro tudo há de concluir, pois como no verbo amar, o mais difícil é conjugar.

Respeito teus anseios e tuas covardias
Pois mesmo a amar-te sou nesta estória a mais-valia.
Respeito meus anseios, entretanto, busco mais
Quero um homem que me ame não um que faça de mim um mero cais. 


Jane Bem.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Versões.

Parte I

A minha história foge a regra, é difícil de contar
ela me amava tão completamente, mas tive que negar
fazia juras de amor, sem nenhum pudor
nunca ouviste nada parecido posso supor

Eu tentava explicar que o amor não tinha me atingido
mas era em vão, até ficava comovido
mandava carta, chorava ao meu ouvido
fui por muito tempo por essa história movido

As vezes me sentia no lado errado, ela não tinha nenhum defeito
era eu que deveria ter a amado, mas nada é perfeito
não via flores onde você via, nem estrelas nos grandes luais
deve ter algum defeito nos nossos ancestrais

Como é difícil dizer "não"
deve sofrer muito o seu coração
não posso fazer nada, te iludir está errado
queria tando que entendesse meu recado

Agora eu sei, o que passam quando estamos amando
mas desta vez é você que está se entregando
a um amor sem destino, não correspondido
é melhor me ouvir, escute meu pedido

Olhe bem ao seu lado, es tão amada
segue o rumo da tua jangada
sofro em dizer que não posso navegar contigo
nunca tome isso como um castigo

Poderia te iludir, dizer que te amo
meu amor perto de uma árvore, só significa um ramo
de todas as estrelas, não passa de um cometa
de todos os passarinhos uma mera borboleta

Entretanto, te amo de uma forma tão completa
sem nenhuma fórmula secreta
peno por não poder te completar
choro por de outra forma te amar


Posso prometer que nunca te deixarei
os teus sonhos, com tintas coloridas pintarei
teus caminhos, com uma forte luz irei iluminar
e prometo fazer de tudo para não te magoar

Não nego que você é meu porto seguro
sem você como será meu futuro?
continue me amando pela eternidade
nunca deixe que eu seja sua prioridade
 

E se um dia deixar de me amar?
não sei onde irei parar
sem um amor conveniente
sem um alguém me desejando diariamente.

Queria viver sempre esse amor inacabado
mesmo te amando tão limitado
mas, se um dia fugir do meu alcance
nunca mais poderei viver este romance.


Rossano Coutelo.