quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Derivado.

Se, da África derivou
Espantosamente tudo que foi criado,
O negro, o branco, o pardo e o mulato
Onde foi então que tudo se separou?

De onde veio, então, este maldito hiato?
Se, é na manhã que se concretiza,
O sentimento ocidental.
É justamente à noite
Que se mostra o transcendental.

O que te pertence oh negro!
Como dizia o poeta: É à noite.
“Pois ela é a única coisa que
Realmente é nossa”. É bela.

É como um pequeno paradoxo;
O negro que ama o mulato
Que ama o próximo
Que ama o pardo
Que ama o branco
Que ama a si mesmo
Que se acha superior
Que também veio da África
Que ainda se acha senhor
Que às vezes é mais negro
Que o próprio negro
Que ninguém amou.


Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Inês?

Que língua você fala Inês?
Que roupa você usa?
Será que você fala o francês?
Será que está nua?

Que horas você chega Inês?
Se mentes toda hora!
Que dia você volta outra vez?
Para nós irmos embora.

Inês não é casta nem nada
Fugiu há algum tempo.
Me diz o que se passa,
Que eu dobro até o vento.

Diz que ainda me ama Inês
Se for preciso mente.
Se for preciso ainda talvez
A verdade você invente.

Talvez você exista Inês
Talvez talvez nunca existiu.
Vai ver morreu antes das três
Para onde Inês partiu?

Por: Rossano Coutelo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Apenas um conto.

Um conto, um causo, uma estória, uma história
Heróis, bandido, reis, rainhas
Na chuva, no sol, na selva ou na relva
O conto de um moço que queria uma moça
O conto de uma moça que procurava um moço
Um moço já adulto mas criança
Uma moça criança mas adulta
Um dia o moço viu a moça
Um dia a moça não olhou pro moço
O moço sonhava com a moça delicada
A moça sonhava com o moço mas em seu rosto não via nada
O moço bruto, a moça delicada
O moço roceiro e a moça educada
N’outro dia o moço buscou a moça amada
Que só então se entregou encantada
O moço feliz logo mudou
A moça suspeita então o amou
Mas o conto ainda não acabou
Será que a moça e moço felizes viverão?
De um amor nascido alí naquele seco chão
Um felizes para sempre eu queria lhes dá
Mas pra moça e pro moço talvez ele não virá
É a vida que imita os contos
Todos buscam amor, felicidade e encantos
Bom mesmo é sem a certeza de que virão
Pois a vida assim tem mais emoção.

Por: Rodrigo Araújo.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Anjo e o velho.

Anjo você é de onde?
Sou do Rio de Janeiro,
Sou de todo fevereiro
Sou meio e as vezes sou inteiro.

E você velho de onde é?
Sou do mundo e o mundo
Que me é.

Mas o mundo não é muito grande velho?
Não, eu ainda vou virar universo.
Quando você vai virar universo?
Quando eu me chamar saudade.


Por: Rossano Coutelo.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Brasil: morbidade geográfica

Tem certas coisas no meu país
Que me fazem vomitar
Um vômito sombrio
Como uma regurgitação
Daquilo que os meus olhos se alimentam.

Indicam-me um remédio
E, subitamente, tudo volta ao normal
Tudo bonito e agradável, como parece
Até o ponto de o seu efeito passar
Sempre sinto isso
E não sei o porquê.

As doses sempre aumentam
Como um mecanismo de compensação da gravidade do problema
Mas eu nunca procuro a solução para isto
Na verdade, eu acho que o problema está em mim.

Na verdade, eu acho que o problema sou eu
E a solução também.

Por: Rafael Urquisa.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Exemplo de não amor.

Talvez haja entro nós um amor perfeito
por algum motivo, sem defeito.
É complexo crer nisso,
por isso eu venho lhe dizer:

Sem nenhum segredo instigante.
Sem nenhuma promessa ofegante,
tão simples. Isso foi apenas uma construção
perfeitamente elaborada que eu fiz de você.

Talvez haja entre nós um amor bandido
daqueles que fazem estudos
e teimam em chamar de perdido.

Talvez haja entre nós um amor pequeno,
que não transborda emoções por ai
nem seja exemplo de amor amante.

Talvez nem seja tão perfeito,
mas é tão bom de um jeito
que dispensa rodeios.

Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011


 Contato com a Carne.

Da carne pura e rompida,
nasce fatídica a prosa in Natura.
Transtorno mundano sem aparência,
a carne demonstra-se como símbolo da consciência.
Aborda a intransigência da prova irrefutável,
contando histórias tolas sobre algo dito inviolável.

O destino é inegável, a quebra se torna assimétrica,
e ao desejo penetrante somam-se:
falanges, espadas cortantes,
que levam ao niilismo descabido.
Homens de ferro feitos de carne,
a mente muda sem você ter percebido.


Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Elogio ao concreto.

Eu troco toda minha poesia
pela plenitude.
Troco todo lirismo  
pela concretude.
Troco o amor
pela razão
e de antemão
posso compreender
a complexidade existente
diante da mais pura raiz
enraizada no chão.

Eu troco as noites de luar
pela terra seca e pelo mar.
Troco a poesia descabida
por aquela que corta a carne
corta os olhos, corta a vida.
Troco o coração pela pedra
e o aperto de mão
pela reprodução
por si só.

Eu troco o frio na barriga
pela dor de cabeça,
e por mais estranho que pareça
troco a vida pela morte
não que a vida não me importe
mas só quero dela o que vem da natureza
e toda aquela beleza, eu não quero.

Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Verdades ao avesso.

Pois é, fica o redito e o não dito
e é melhor ser alegre que bonito
pois na vida tudo se perde de antemão.
Tudo muda na vida meu irmão
o samba talvez nem mude tanto
vai perdendo a cor e  a razão.

Pois é, os insanos não sabem ouvir música
e parados esperam a hipotenusa
chegar com a rima e a canção.
Pois todo poder requer conhecimento
toda mulher procura um casamento
essa é a lógica da paixão.

Pois é, se equilibrar é perder o equilíbrio
volto a dizer o que não foi dito
essa é a mágica da intenção.
Pois sem história não haveria pecado
olhe bem para quem está ao seu lado,
a inveja é a maior admiração.

Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011


Pobre Raimundo.

Acima, distante do mundo
Do lado oposto do universo
A vida do pobre Raimundo
Só anda através do inverso.

Nem os loucos entendem Raimundo
E dentro do mundo que cria
Os tiranos governam com harmonia.

Nem os puros entendem Raimundo
No fundo ele também é puro
Às vezes se mostra inseguro.

Dentro do sonho de Raimundo
O primeiro vira segundo
O trabalhador vira vagabundo.

O maior mistério de Raimundo
É profundo é profano.
É do céu é subumano.

Talvez Raimundo seja nenhum
dentro do mar e da terra
talvez seja mais de um
dentro dessa enorme guerra.

 Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011


Próprio tempo.

Quem me dera ser natureza,
Ser infinitude, imensidão,
Ser a própria história, meta-história não!
Ser o céu jogado ao léu.

Quem me dera ser pós
E não levar o algoz da modernidade.
Ser ao mesmo tempo;
Tempo e contratempo.
Ser um todo e compor,
Ser galho, rama e flor.

Quem dera ser mar
Para me estender por continentes.
Ser eternidade eternamente.
Quem dera ser a própria vida
Pois só assim, poderia escolher,
A triste hora da partida.


 Por: Rossano Coutelo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A dor da dança.

A dor da dança é física
a dor da dança é corpo
é vivo, é morto
é dança.

Por: Rossano Coutelo

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Você não é Clarice?

Que mistério é esse?
Que inventas para mim?
Nem Clarice você é
Trate de dar um fim.

Como sabes que ela não me ama?
Se você não sabe amar?
Vai querer agora me provar
Que Clarice não existe,
Onde queres parar?

Deixe de prosa, de meninice
Você não é Clarisse
Para roubar meu coração.
Deixe agora de sandice
Nem parece com Clarice
Para dizer tanto não.

Só vi Clarice uma vez
Bem ao longe no escuro
Mas deu para ver com nitidez
Que ela me amava, contudo.


Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Como quem canta.

Como quem tem medo da chuva
Soluça seu coração
Se junta na dança
Veste sua luva
Não dança!

Como quem chora
Implora perdão
Não dorme, nem descansa
Veste seu terno
Não ama!

Como quem olha
Debruça seus olhos
Duvida da vista
Ninguém sobra na pista
Procura seu par.

Como quem samba
Duvida da dança
Em um pequeno salão
Uns pares opostos
Vive a vagar e devagar
Dança!

Como quem ama
Não força a dança
Da a mão, recebe um não
Vive a sonhar
Mas ama!

Por: Rossano Coutelo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011


Nem sempre só.

Mas o pior não é se entrevar
jogado no ar,
o pior é se deixar levar.

Mas o pior não é se prender em um nó
virando cinzas, virando pó,
o pior é ser sempre tão só.

Mas o pior não é ser infeliz
e por um triz,
o pior é quando a gente nem diz.

Nem ser teoria nem ironia,
ser poesia e fantasia.
Nem ser concreto, nem sempre certo,
ser aberto, ser liberto.

Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Não era nada de sonho.

De noite raiava o sol
De dia a luz se escondia
Passarinhos nos ares latindo
Na terra eu te queria
O peixe no chão dormindo
O teu amor que eu não via.

Com tantos sonhos rolando
As vezes eu me perdia
Com tantos sonhos brotando
As vezes tinha euforia.

E como um sonho ao avesso
Pensava eu que dormia
Da lua alguém me dizia
Que todo sonho tem preço
Eu quero a minha alforria.

Mas como diz o começo
Aquele sonho ao contrário
Que eu sonhava morria
De dia o sol na cabeça
A noite o sol já jazia.

Não era sonho nem nada
Mas vejam que agonia
Aquelas coisas estranhas
Era o amor que em mim se fazia.

Por: Rossano Coutelo.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quero dizer.

Há nesses dias a saudade.
Sei que você me permite falar que a saudade é de dizer.
E insisto em não me calar.

Ao som da música e pingos
Ao som do sopro e do silêncio
Vem que eu insisto em dizer.

E não adianta se ausentar   
Vou fazer o que é não é proibido
Arrancar o que já não é mais vontade, mas desejo.

Repito, por isso, o que disse aos dias.
Transgrido o nosso acordo secreto
E exponho o que já não é mais discreto.

Faz tempo que não falamos.
Existem horas que não brincamos.
Os dias andam em silêncio.

Parece-me que você esqueceu
Mas sou breve em dizer e bem frisar
Não esqueça meu bem, o nosso amor não é isso.


Por: Wandoberto Silva.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Evolução?

Somos teoricamente mais evoluídos
temos nossos próprios signos
estudamos os anfíbios
em sentimentos somos peregrinos.

Viajamos a lua todos os dias
sofremos de estresse, estafa e bulimia

vivemos vivendo de mais-valia
pagamos milhões por terapias.

Temos um santo para cada dia
vendemos o céu com maestria
matamos irmãos, sobrinhos e tias
dos animais somos os únicos com homofobia.

Que evolução é essa meu Deus?
as pessoas só se preocupam com os seus
são tantos pseudo-ateus
quero ver na hora do derradeiro adeus!

Por: Rossano Coutelo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ange sans amour.

Eu que via em ti tantos motivos,
que vias em mim todo castigo
eu ia mandar a solidão
para o outro lado da contramão.
 

Eu pensava tanto, duvidava tanto,
tu não vias quanto era meu pranto
eu ia mudar de opinião
 
o tempo era a única questão.
 

Eu que era assim tão desamor,
vias em mim tanto pavor
era só me questionar
iria correndo te amar.
 

Eu buscava ter, sem perceber
quando perdi, que pude ver
se defendias como podias
e do todo fiquei sem nenhuma fatia.


Por: Rossano Coutelo.