quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amar, às vezes.

“Pintei na minha pele um tanto fria,
o nome da mulher que já perdi.
Pensando que já tinha esquecido, menti,
nos braços de uma meretriz que da minha cara ria.


Em um efêmero instante de alegria,
espalhei pela cidade fotos do amor bonito que vivi.
De todas as maneiras que há de gostar, errada foi a opção que escolhi.
Para viver um amor que nada valia.

Uma paixão sem prudência,
pode causar danos irreparáveis na essência.
De um jovem prematuramente apaixonado.

Na pertinência da ferida aberta, jogo a tristeza no canto.
No fim da queda, me limpo e levanto.
Decido que vou amar agora só de vez em quando.”

Cícero Augusto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Céu privado

“Um copo de vinho e
um pão sobre à mesa. Pequena ceia, não santa.

Meu exíguo território religioso.

Esses pequenos soldados de cor de noite
que avançam organizadamente para o açúcar.
Vejo-os como um rebanho de ovelhas,
e o monte de açúcar,
quem sabe, o Monte das Oliveiras.
As ovelhas de Moisés.

Ovelhas guiadas,
formigas pretas, uma por uma, se perdem na caminhada.
A estrada é o Tao,
a peregrinação de Nazaré,
percurso de Compostela
e a Meca de Mohamed.

Tudo é caminho, diversos caminhos, oblíquos caminhos, às vezes,
assimétricos. Contudo, nunca falta objetivo.
“Todo caminho da na venda”.
E na venda tem de tudo, tem: Inhavé,
Jeová e Jesus de Nazaré.
Veja o preço mais em conta.
Pague às vista.
Eles não aceitam à prazo.

Formiga, ovelha, homem.
Homem, ovelha, formiga.

Vi homens nas ovelhas, e ovelhas em formigas.
Deus em açúcar. Deus è doce, mas custa.

Açúcar, venda, igreja.
Igreja, venda, açúcar.

Açúcar comprado na venda, venda que se tem na igreja.
Deus em venda, custa.

As ovelhas continuam, a percorrer à mesa.
Perdoe, elas não sabem para onde vão.”

Cícero Augusto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

GRAVATA SOCIAL.

Gravata listrada vinda da Itália,
com corte bem feito de uma fina navalha.
Tecido de qualidade de cor azulada.

Uma criança com fome no assento da praça.

Gravata bonita e bem arrumada,
beleza distinta de roupa importada,
em um homem branco com relógio de prata.

Uma criança com fome na beira da estrada.

Carro do ano com portas travadas,
com vidro fumê e carroceria blindada,
motoristas com medo do moleque da água.

Uma criança com fome no pé da calçada.

Gravata!!!
Símbolo de uma classe alienada.

Gravata!!!
Hipócrita é gente engravatada,
que deixam as crianças nas ruas completamente alijadas.
E com as suas colocam em escolas caras.

Gravata!!!
Filantropia com quem usa é piada.

Gravata!!!
Acessório de minoria ordinária.

Quero uma gravata comprida,
para dar um grande laço,
para caber de bom grado,
todos:
esfomeados e desabitados
que sobrevivem à margem da vida.

Cícero Augusto

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Antiga varanda

Faz do céu teu mar, nada nas nuvens molhadas
Revira teus horários, atrasa teu fuso
A vida te espera há muito tempo, e você só faz fugir
Quantas vezes brigamos por míseros motivos.
Sinto saudades de quando não tínhamos responsabilidades.

Pinta as estrelas no chão, cola elefantes no teto.
Antes líamos poemas, contos e fábulas,
Hoje lemos relatórios, artigos e contas
Antes jogávamos, dançávamos e o tempo era longo,
Hoje trabalhamos, trabalhamos e o tempo parece não existir
Antes todos os dias você ia à minha casa,
Hoje não te vejo há anos.

Nem posso mais dizer que sinto saudade, as lembranças são vagas]
As notícias que tenho sobre você, acredito que na realidade falam de outra pessoa]
Porque mudamos tanto?
Seria bom que o tempo fosse generoso,
Seria bom que ele voltasse e congelasse.

Um dia que tiver tempo,
Em uma varanda alta
Podemos conversar sobre o vento
E coisas que o tempo não trás de volta.

Ou quem sabe assim, falar do futuro
Em uma varanda baixa
Bem perto do nosso retrato
Que tiramos no último dia que você veio em minha casa.

Falaremos de saudade e da vontade
Do que passou e do que está por vir
Em uma varanda de verdade
Que um dia vou construir.

Bem perto de onde a gente morava
Pra lembrar-nos das nossas meninices
De quando brincávamos naquela varanda
E lembrar que éramos felizes e hoje somos tristes.

Rossano Coutelo.

24/10/09

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Pouco que se sabe.

Vidas passadas, justapostas ao mesmo som,
Que estão em algum lugar colorido pelo amor,
Igualada na menor força possível,
Capaz de contemplar o admirável estado da solidão,
Termina-se juntando o óbvio ao complexo,
E assim mesmo a vida corre, sem pudor,
O amor que deveras se sente, hoje se fez o favor de não mais estar,
Tenta-se buscar onde não há, mesmo contrariando a existência,
Buscando o teor de cada mínimo acontecimento,
E desprezando acontecimentos maiores,
Contemplando os feitos, para poder seguir,
Iludindo o fato, pecando a cada passo,
Fazendo de si mesmo algo que não queres ser,
Mas se for preciso, para estar, então que seja.

Não que esteja sendo prejudicial,
Ou que fiz por insistir no impossível,
Na verdade, nem penso, deixo como a vida decidir,
Ganho com a perca, e nem percebo se não for,
Quem pode dar a verdadeira versão dessa história?
E sobra versão nesse mar?
Há versão na solidão?
Não lembras dos dias que me faltavas?
O fim é que juntos ficamos até o tempo deixar.

Pobre ilusão culpar o tempo,
Verdades que faltam. Isso sim se pode dizer,
Se fosse apenas isso, seriamos felizes,
O que se perde? Não sei ao certo!
O natural é poder dizer que o amor um dia acaba,
Fotografias vão ficar, músicas serão lembradas,
Algumas palavras, não fariam falta, a lua é testemunha!
Não podes negar que, quando me tinhas relaxavas,
A única versão no fim é a que por último é contada.

Rossano Coutelo.

20/04/2009