Pobre Raimundo.

Acima, distante do mundo

Do lado oposto do universo

A vida do pobre Raimundo

Só anda através do inverso.

Nem os loucos entendem Raimundo

E dentro do mundo que cria

Os tiranos governam com harmonia.

Nem os puros entendem Raimundo

No fundo ele também é puro

Às vezes se mostra inseguro.

Dentro do sonho de Raimundo

O primeiro vira segundo

O trabalhador vira vagabundo.

O maior mistério de Raimundo

É profundo é profano.

É do céu é subumano.

Talvez Raimundo seja nenhum

dentro do mar e da terra

talvez seja mais de um

dentro dessa enorme guerra.

 Por: Rossano Coutelo.

Próprio tempo.

Quem me dera ser natureza,

Ser infinitude, imensidão,

Ser a própria história, meta-história não!

Ser o céu jogado ao léu.

Quem me dera ser pós

E não levar o algoz da modernidade.

Ser ao mesmo tempo;

Tempo e contratempo.

Ser um todo e compor,

Ser galho, rama e flor.

Quem dera ser mar

Para me estender por continentes.

Ser eternidade eternamente.

Quem dera ser a própria vida

Pois só assim, poderia escolher,

A triste hora da partida.

 Por: Rossano Coutelo.

A dor da dança.

A dor da dança é física
a dor da dança é corpo
é vivo, é morto
é dança.

Por: Rossano Coutelo

Você não é Clarice?

Que mistério é esse?

Que inventas para mim?

Nem Clarice você é

Trate de dar um fim.

Como sabes que ela não me ama?

Se você não sabe amar?

Vai querer agora me provar

Que Clarice não existe,

Onde queres parar?

Deixe de prosa, de meninice

Você não é Clarisse

Para roubar meu coração.

Deixe agora de sandice

Nem parece com Clarice

Para dizer tanto não.

Só vi Clarice uma vez

Bem ao longe no escuro

Mas deu para ver com nitidez

Que ela me amava, contudo.

Por: Rossano Coutelo.