quinta-feira, 20 de maio de 2010

Litoral Vivo

As ondas quebravam em silêncio,
nas rochas de granito inquebrantável.
Os ventos as levavam para as pedras,
as pedras as levavam para as areias,
e as areias as levavam para a lembrança.
A memória de algo quebrando, de algo vivo.
Porque o que é vivo quebra.

Mas ali, eles ficavam intactos,
o tempo só mexeu na superfície
Cabelos brancos, o céu azul.
olhos cansados, o mar voraz.
Conversa calada, o som do vento na folha do coqueiro
é o ideal.
Um casal no seu inefável momento
de observar o mar, o mundo.

Mãos dadas na beira-mar.
Talvez daqui algum tempo,
um não terá a mão do outro.
Só terá a sua própria, entrelaçada
na beira de um buraco eterno.
É incrível como o amor pode sobreviver
ao incomodo do passar das horas,
ao conflito do cotidiano, persistir diante
de outra vontade.

O horizonte os conforta,
a paz das coisas infinitas.
Os cabelos longe, se confundem
com as nuvens brancas do céu.
A morte se apresenta até em fios
de cabelos. Mas eles já perderam
o último fio de esperança.
Sentados, esperam uma despedida tranquila.

Um jovem surge para
recolhê-los pra um carro.
Os carrega com atenção.
Conduz algo frágil, raro, e ele sabe disso.
Passo a passo, com cuidado.
Porque o que é vivo quebra,
no mar, na onda, na lembrança.


Por Cícero Augusto.

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